Quadras urbanas podem ser definidas como o espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais vias, subdivisível em lotes para a construção de edifícios. Para além da definição técnica, no decorrer dos séculos, este elemento morfológico foi sendo moldado em conformidade com o pensamento urbano e as expectativas vigentes podendo configurar um único volume ou vários que variam em altura e profundidade; volumes isolados em meio a natureza ou labirintos de difícil acesso. Independente da composição, a quadra simboliza o elemento mínimo da escala do bairro e assume o importante papel na mediação entre o público e o privado dentro das cidades.
Conheça a seguir algumas tipologias de quadras urbanas ilustradas por incríveis fotografias aéreas.
Quadra Tradicional
A quadra tradicional pode ser entendida como um organismo urbano gerado por meio de um longo processo histórico. É caracterizada por um grande volume delimitado e homogêneo que apresenta uma relação desproporcional entre o espaço construído e os espaços livres. Sua geometria variável corresponde diretamente ao excedente do traçado viário, prevalecendo uma arquitetura restrita à fachada frontal que pode ou não apresentar uma homogeneidade volumétrica, como o emblemático caso de Paris sob o comando de Haussmann.
Toledo, Espanha
Paris, França
Atenas, Grécia
Belo Horizonte, Brasil
Plano Cerdá
Barcelona merece um parágrafo a parte, visto que, Ildefonso Cerdá instituiu uma tipologia marcante na qual há uma mudança de relação entre edifício e rua. Seu plano reconhece a quadrícula como traçado que apresenta vantagens de circulação, topologia e construção, chegando a um módulo quadrado (113x113m) com chanfro de 20m. Tal tipologia marca a história do urbanismo pois, neste momento, a quadra passa de uma condição residual, conforme dito anteriormente, para se tornar o elemento principal de composição e suporte urbano.
Seu plano não foi completamente aplicado, com a execução limitada ao traçado viário. As quadras, que antes previam espaços internos livres com 1/3 da superfície total, ofereceriam equipamentos e parques públicos, entretanto, foram ocupadas massivamente com o passar dos anos.
Barcelona, Espanha
Valencia, Espanha
Ocupação Perimetral
Apesar do plano Cerdá não ter sido executado em toda sua potencialidade, ele inspirou a aplicação da ocupação perimetral das quadras. Amsterdã, por exemplo, é uma das cidades que desenvolveram experiências significativas em relação a esta tipologia. Apesar das suas quadras ainda serem resultados do sistema viário, Figueroa (2016) afirma que elas estabelecem uma nova hierarquia de vias e espaços urbanos, principalmente pela construção diferenciada das esquinas e pela evolução dos miolos destinados à jardins internos – a princípio privados, e posteriormente públicos, fortalecendo a permeabilidade da quadra.
Amsterdã, Holanda
Viena, Áustria
Estocolmo, Suécia
Quadra Aberta
A quadra aberta é, por essência, um elemento híbrido conciliador, já que, recupera o valor da rua e da esquina tradicional, mas respeita a autonomia dos diferentes edifícios. Nessa composição permite-se mais iluminação e ventilação natural aos edifícios ao mesmo em que se esfumaça a relação entre o público e o privado por meio dos caminhos que cruzam as quadras, recuperando a escala do pedestre.
Berlim, Alemanha
Mega Estruturas
Exaltando a estrutura e a tecnologia, as quadras configuradas por mega estruturas, apesar de serem um termo da década de 1980, continuam muito presentes no imaginário urbano. O complexo de resorts luxuosos abaixo serve como exemplo dessa tipologia que cria uma topografia artificial propiciando diferentes percepções urbanas.
Awaza, Turcomenistão
Campus Google, Califórnia
Novo Urbanismo
Essa tipologia, que surgiu ainda na década de 1960, representa a superação do esquematismo na produção da cidade do movimento moderno. Na sua concepção, o novo urbanismo defende o projeto de vizinhanças para pedestres com funções mistas de habitação e trabalho. Além disso, há uma preocupação com a integração entre construído e natureza, fomentando a presença das áreas verdes e o convívio em parques públicos no intuito de esfumaçar os limites entre o público e o privado. Este caráter é refletido principalmente no desenho orgânico do traçado urbano.
Copenhagen, Dinamarca
Dubai, Emirados Árabes
Referência:
FIGUEROA, Mário. Habitação coletiva e a evolução da quadra urbana. Arquitextos, São Paulo, 2006.